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sábado, 30 de outubro de 2010

Questões do ENEM

Estou postando questões do ENEM na área de história a partir de 2005. Por enquanto são só algumas. Estou em fase de construção dessa postagem. Pretendo colocar o gabarito e comentar. Por agora ficaram apenas algumas questões.

Ciências Humanas e suas tecnologias
Domínios de História

ENEM 2005

1. Zuenir Ventura, em seu livro “Minhas memórias dos outros” (São Paulo: Planeta do Brasil, 2005), referindo-se ao fim da “Era Vargas” e ao suicídio do presidente em 1954, comenta: Quase como castigo do destino, dois anos depois eu iria trabalhar no jornal de Carlos Lacerda, o inimigo mortal de Vargas (e nunca esse adjetivo foi tão próprio). Diante daquele contexto histórico, muitos estudiosos acreditam que, com o suicídio, Getúlio Vargas atingiu não apenas a si mesmo, mas o coração de seus aliados e a mente de seus inimigos.
A afirmação que aparece “entre parênteses” no comentário e uma conseqüência política que atingiu os inimigos de Vargas aparecem, respectivamente, em:
(A) a conspiração envolvendo o jornalista Carlos Lacerda é um dos elementos do desfecho trágico e o recuo da ação de políticos conservadores devido ao impacto da reação popular.
(B) a tentativa de assassinato sofrida pelo jornalista Carlos Lacerda por apoiar os assessores do presidente que discordavam de suas idéias e o avanço dos conservadores foi intensificado pela ação dos militares.
(C) o presidente sentiu-se impotente para atender a seus inimigos, como Carlos Lacerda, que o pressionavam
contra a ditadura e os aliados do presidente teriam que aguardar mais uma década para concretizar a democracia progressista.
(D) o jornalista Carlos Lacerda foi responsável direto pela morte do presidente e este fato veio impedir definitivamente a ação de grupos conservadores.
(E) o presidente cometeu o suicídio para garantir uma definitiva e dramática vitória contra seus acusadores e
oferecendo a própria vida Vargas facilitou as estratégias de regimes autoritários no país.

2. Observe as seguintes estratégias para a ocupação da Amazônia Brasileira.
I - Desenvolvimento de infraestrutura do projeto Calha Norte;
II - Exploração mineral por meio do Projeto Ferro Carajás;
III - Criação da Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia;
IV - Extração do látex durante o chamado Surto da Borracha.
A ordenação desses elementos, desde o mais antigo ao mais recente, é a seguinte:
(A) IV, III, II, I.
(B) I, II, III, IV.
(C) IV, II, I, III.
(D) III, IV, II, I.
(E) III, IV, I, II.

ENEM 2006

1. Segundo a explicação mais difundida sobre o povoamento da América, grupos asiáticos teriam chegado
a esse continente pelo Estreito de Bering, há 18 mil anos. A partir dessa região, localizada no extremo noroeste do continente americano, esses grupos e seus descendentes teriam migrado, pouco a pouco, para outras áreas, chegando até a porção sul do continente. Entretanto, por meio de estudos arqueológicos realizados no Parque Nacional da Serra da Capivara (Piauí), foram descobertos vestígios da presença humana que teriam ate 50 mil anos de idade. Validadas, as provas materiais encontradas pelos arqueólogos no Piauí
(A) comprovam que grupos de origem africana cruzaram o oceano Atlântico até o Piauí há 18 mil anos.
(B) confirmam que o homem surgiu primeiramente na América do Norte e, depois, povoou os outros
continentes.
(C) contestam a teoria de que o homem americano surgiu primeiro na América do Sul e, depois, cruzou o Estreito de Bering.
(D) confirmam que grupos de origem asiática cruzaram o Estreito de Bering ha 18 mil anos.
(E) contestam a teoria de que o povoamento da América teria iniciado há 18 mil anos.

2. Os cruzados avançavam em silencio, encontrando por todas as partes ossadas humanas, trapos e bandeiras. No meio desse quadro sinistro, não puderam ver, sem estremecer de dor, o acampamento onde Gauthier havia deixado as mulheres e crianças. Lá, os cristãos tinham sido surpreendidos pelos muçulmanos, mesmo no momento em que os sacerdotes celebravam o sacrifício da Missa. As mulheres, as crianças, os velhos, todos os que a fraqueza ou a doença conservava sob as tendas, perseguidos até os altares, tinham sido levados para a escravidão ou imolados por um inimigo cruel. A multidão dos cristãos, massacrada naquele lugar, tinha ficado sem sepultura. J. F. Michaud. História das cruzadas. São Paulo: Editora das Américas, 1956 (com adaptações).
Foi, de fato, na sexta-feira 22 do tempo de Chaaban, do ano de 492 da Hégira, que os franj* se apossaram da Cidade Santa, apos um sitio de 40 dias. Os exilados ainda tremem cada vez que falam nisso, seu olhar se esfria como se eles ainda tivessem diante dos olhos aqueles guerreiros louros, protegidos de armaduras, que espelham pelas ruas o sabre cortante, desembainhado,degolando homens, mulheres e crianças, pilhando as casas, saqueando as mesquitas.
*franj = cruzados.
Amin Maalouf. As Cruzadas vistas pelos árabes. 2.ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1989 (com adaptações).
Avalie as seguintes afirmações a respeito dos textos acima, que tratam das Cruzadas.
I - Os textos referem-se ao mesmo assunto — as Cruzadas, ocorridas no período medieval —, mas apresentam visões distintas sobre a realidade dos conflitos religiosos desse período histórico.
II Ambos os textos narram partes de conflitos ocorridos entre cristãos e muçulmanos durante a Idade Media e
revelam como a violência contra mulheres e crianças era prática comum entre adversários.
III Ambos narram conflitos ocorridos durante as Cruzadas medievais e revelam como as disputas dessa época, apesar de ter havido alguns confrontos militares, foram resolvidas com base na ideia do respeito e da tolerância cultural e religiosa.
E correto apenas o que se afirma em:
(A) I. (B) II. (C) III. (D) I e II. (E) II e III.

3. O que chamamos de corte principesca era, essencialmente, o palácio do príncipe. Os músicos eram
tão indispensáveis nesses grandes palácios quanto os pasteleiros, os cozinheiros e os criados. Eles eram o que se chamava, um tanto pejorativamente, de criados de libre. A maior parte dos músicos ficava satisfeita quando tinha garantida a subsistência, como acontecia com as outras pessoas de classe média na corte; entre os que não se satisfaziam, estava o pai de Mozart. Mas ele também se curvou as circunstâncias a que não podia escapar. Norbert Elias. Mozart: sociologia de um gênio. Ed. Jorge Zahar, 1995, p. 18 (com adaptações).
Considerando-se que a sociedade do Antigo Regime dividia-se tradicionalmente em estamentos: nobreza, clero e 3.° Estado, e correto afirmar que o autor do texto, ao fazer referência a “classe média”, descreve a sociedade utilizando a noção posterior de classe social a fim de
(A) aproximar da nobreza cortesã a condição de classe dos músicos, que pertenciam ao 3.° Estado.
(B) destacar a consciência de classe que possuíam os músicos, ao contrario dos demais trabalhadores
manuais.
(C) indicar que os músicos se encontravam na mesma situação que os demais membros do 3.° Estado.
(D) distinguir, dentro do 3.° Estado, as condições em que viviam os “criados de libre” e os camponeses.
(E) comprovar a existência, no interior da corte, de uma luta de classes entre os trabalhadores manuais.

4. No principio do século XVII, era bem insignificante e quase miserável a Vila de São Paulo. Joao de Laet dava-lhe 200 habitantes, entre portugueses e mestiços, em 100 casas; a Câmara, em 1606, informava que eram 190 os moradores, dos quais 65 andavam homiziados*.
*homiziados = escondidos da justiça
Nelson Werneck Sodré. Formação histórica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1964.
Na época da invasão holandesa, Olinda era a capital e a cidade mais rica de Pernambuco. Cerca de 10%
da população, calculada em aproximadamente 2.000 pessoas, dedicavam-se ao comércio, com o qual muita
gente fazia fortuna. Cronistas da época afirmavam que os habitantes ricos de Olinda viviam no maior luxo. Hildegard Féist. Pequena história do Brasil holandês. São Paulo: Moderna, 1998 (com adaptações).
Os textos acima retratam, respectivamente, São Paulo e Olinda no inicio do século XVII, quando Olinda era maior e mais rica. São Paulo é, atualmente, a maior metrópole brasileira e uma das maiores do planeta. Essa mudança deveu-se, essencialmente, ao seguinte fator econômico:
(A) maior desenvolvimento do cultivo da cana-de-açúcar no planalto de Piratininga do que na Zona da Mata
Nordestina.
(B) atraso no desenvolvimento econômico da região de Olinda e Recife, associado a escravidão, inexistente
em Sao Paulo.
(C) avanço da construção naval em São Paulo, favorecido pelo comércio dessa cidade com as Índias.
(D) desenvolvimento sucessivo da economia mineradora, cafeicultora e industrial no Sudeste.
(E) destruição do sistema produtivo de algodão em Pernambuco quando da ocupação holandesa.
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5. No início do século XIX, o naturalista alemão Carl Von Martius esteve no Brasil em missão cientifica para fazer observações sobre a flora e a fauna nativas e sobre a sociedade indígena. Referindo-se ao indígena, ele afirmou: “Permanecendo em grau inferior da humanidade, moralmente, ainda na infância, a civilização não o altera, nenhum exemplo o excita e nada o impulsiona para um nobre desenvolvimento progressivo (...). Esse estranho e inexplicável estado do indígena americano, até o presente, tem feito fracassarem todas as tentativas para concilia-lo inteiramente com a Europa vencedora e torna-lo um cidadão satisfeito e feliz.”
Carl Von Martius. O estado do direito entre os autóctones do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1982.
Com base nessa descrição, conclui-se que o naturalista Von Martius
(A) apoiava a independência do Novo Mundo, acreditando que os índios, diferentemente do que fazia a missão europeia, respeitavam a flora e a fauna do pais.
(B) discriminava preconceituosamente as populações originárias da América e advogava o extermínio dos
índios.
(C) defendia uma posição progressista para o século XIX: a de tornar o indígena cidadão satisfeito e feliz.
(D) procurava impedir o processo de aculturação, ao descrever cientificamente a cultura das populações
originárias da América.
(E) desvalorizava os patrimônios étnicos e culturais das sociedades indígenas e reforçava a missão “civilizadora europeia”, típica do século XIX.
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6. A moderna democracia brasileira foi construída entre saltos e sobressaltos. Em 1954, a crise culminou no
suicídio do presidente Vargas. No ano seguinte, outra crise quase impediu a posse do presidente eleito, Juscelino Kubitschek. Em 1961, o Brasil quase chegou a guerra civil depois da inesperada renuncia do presidente Jânio Quadros. Três anos mais tarde, um golpe militar depois o presidente João Goulart, e o país viveu durante vinte anos em regime autoritário.
A partir dessas informações, relativas a história republicana brasileira, assinale a opção correta.
(A) Ao termino do governo João Goulart, Juscelino Kubitschek foi eleito presidente da República.
(B) A renúncia de Jânio Quadros representou a primeira grande crise do regime republicano brasileiro.
(C) Após duas décadas de governos militares, Getúlio Vargas foi eleito presidente em eleições diretas.
(D) A trágica morte de Vargas determinou o fim da carreira política de João Goulart.
(E) No período republicano citado, sucessivamente, um presidente morreu, um teve sua posse contestada, um renunciou e outro foi deposto.

7. Os textos a seguir foram extraídos de duas crônicas publicadas no ano em que a seleção brasileira conquistou o tricampeonato mundial de futebol. O General Medici falou em consistência moral. Sem isso,
talvez a vitória nos escapasse, pois a disciplina consciente, livremente aceita, e vital na preparação espartana para o rude teste do campeonato. Os brasileiros portaram-se não apenas como técnicos ou profissionais, mas como brasileiros, como cidadãos deste grande pais, cônscios de seu papel de representantes de seu povo. Foi a própria afirmação do valor do homem brasileiro, como salientou bem o presidente da Republica.
Que o chefe do governo aproveite essa pausa, esse minuto de euforia e de efusão patriótica, para meditar sobre a situação do país. (...) A realidade do Brasil e a explosão patriótica do povo ante a vitória na Copa.
Danton Jobim. Última Hora, 23/6/1970 (com adaptações).
O que explodiu mesmo foi a alma, foi a paixão do povo: uma explosão incomparável de alegria, de entusiasmo, de orgulho. (...) Debruçaado em minha varanda de Ipanema, [um velho amigo] perguntava: — Será que algum terrorista se aproveitou do delírio coletivo para adiantar um plano seu qualquer, agindo com frieza e precisão? Será que, de outro lado, algum carrasco policial teve ânimo para voltar a torturar sua vitima logo que o alemão apitou o fim do jogo?
Rubem Braga. Última Hora, 25/6/1970 (com adaptações).
Avalie as seguintes afirmações a respeito dos dois textos e do período histórico em que foram escritos.
I - Para os dois autores, a conquista do tricampeonato mundial de futebol provocou uma explosão de alegria popular.
II - Os dois textos salientam o momento politico que o pais atravessava ao mesmo tempo em que conquistava o tricampeonato.
III - A época da conquista do tricampeonato mundial de futebol, o Brasil vivia sob regime militar, que, embora politicamente autoritário, não chegou a fazer uso de métodos violentos contra seus opositores.
É correto apenas o que se afirma em
(A) I. (B) II. (C) III. (D) I e II. (E) II e III.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Exercício de vaidade.

Sábado estava conversando com uma recém Doutora em Psicologia. Sua defesa de tese ocorreu há pouco tempo. Foi uma conversa breve, onde destacamos a inutilidade das láureas acadêmicas, e da prática literária de se escrever para seus pares, muitas vezes quase um monólogo de um cientista para uma academia inoperante. Marcou-me uma frase desta moça, que sequer sei seu nome, mas sábia e massacrada pela vaidade acadêmica soltou: "a defesa de tese é um ritual narcisita que consiste em o doutorando mostrar até onde suporta a vaidade daquela banca".
Sem querer desmerecer os verdadeiros merecidos: excelente observação! Mas um crítico doutorado no mercado de trabalho. Espero que ela esteja empregada, pois merece.

terça-feira, 9 de março de 2010

O monstro dos meus pesadelos.

Meu pai me disse por vezes que eu não iria mudar o mundo. Provavelmente ele concordava com minhas opiniões, mas a experiência permitia que ele dissesse aquilo para mim.
Trabalho há quatro anos numa escola pública. Sou concursada. Professora por idealismo, postei crédito no meu trabalho como veículo de transformação. Ainda tenho essa crença. Mas ela está entre o equilíbrio tênue que me mantém a frente da docência e a queda em um abismo de descrença que sucumbe a classe trabalhadora a que pertenço. Vejo-me balançando os braços para trás, aos pés de um precipício, tentando me manter no alto sem cair.
Quando contava vinte poucos anos de vida e alguns poucos de docência, estagiei em uma escola pública onde havia uma personagem já cadeira cativa do desencanto. Lembro ter chegado cedo para usar o mimeografo e preparar material de apoio para os alunos, me isolando em uma sala de aula fora do horário. Aquela personagem, a quem vou chamar de monstro dos meus pesadelos, passou à porta e com um ar arrogante e profético me desafiou. Quantos anos eu passaria acreditando no sucesso da atividade docente? Perguntou-me: “Está recebendo mais que todos nós para trabalhar hora extra?” Faltou apenas romper uma gargalhada diabólica para que aquela cena se transformasse no meu maior medo profissional. Medo de trabalhar demais? Medo de má remuneração? Não! Medo de ficar igual ao monstro dos meus pesadelos, acomodada no abismo do desencanto.
Na educação pública temos concursados que estão presos a docência pública por causa da infeliz da “estabilidade”. Eles contribuem para o desencanto. Um “n” número de profissionais frustrados, que sonharam ser qualquer coisa, menos professores, e que vão buscar no emprego público “um ganha pão”. A missão devocional não abrange esses indivíduos.
Na escola em que estou localizada o monstro de meus pesadelos tomou outras formas, disfarçou-se, mas sua sociopatia continuou me fazendo identificá-lo. Quando uma vez entrei na sala de “professores”, antes de fechar a porta, esse maldito avistou um aluno e pediu-lhe carinhosamente para buscar-lhe água, no que o garoto consentiu. Ao fechar a porta o monstro mostrou-se para mim, xingando o garoto de peste e desgraça. Já sobre outra forma esbravejou que a escola não o merecia, pois era bom demais. Foi favorável a greve para não ter que ir trabalhar. Animou-se com uma briga de alunas, numa cena que Quentin Tarantino gostaria de filmar em comemoração ao aniversário do seu “Kill Bill”. As aulas foram suspensas naquele dia. Para mim foi a visão do inferno. Mas no outro dia o monstro perguntava: “não teremos briga hoje? Trabalharemos o expediente inteiro?”
Às vezes sinto pena do monstro porque é uma vítima da formação sociocultural capitalista. Mas por vezes vi a maldade em seus olhos. A mesma que está nos olhos de todo ser corrupto.
Mas nem todas as formas são possíveis ao monstro. Há os heróis que ajudam a combatê-los. A escola que trabalho tem nome de padre, mas deveria ser de Madre. Precisamente, Madre Thereza de Calcutá. Faria jus aos sacrifícios diários que a comunidade faz para ali se manter e completar sua missão educacional. Missão devocional porque salarial não passa perto. Ela é um trem desgovernado e fedorento. Há heróis que estão se cansando da rotina de batalha. O monstro ganha espaço ante ao herói quase vencido. Basta um sopro e juntos cairemos no abismo sem volta.
Meus sonhos sabem o quanto desejei uma luta gloriosa e cheia de vitórias. O quanto desejei mudar o mundo. Mas a mudança que desejei é minha, dos meus olhos. O criador do monstro não mede esforços para atrair aliados e novas formas de monstros. Ele é um galante sedutor, que faz de tudo para mostrar suas qualidades no início da conquista, mas não consegue manter sua maquiagem por muito tempo. Já é tarde! A mocinha uma vez conquistada sempre relutará em deixá-lo, mesmo reconhecendo seus defeitos pois já não mais acredita em príncipes encantados. É a Política!

segunda-feira, 8 de março de 2010

8 de março professora?

Hoje acordei e segui a mesma rotina que me é comum. Levantar cedo, fazer café, arrumar a filha para a escola, dar o café do marido, arrumar a casa, preparar o almoço e arranjar um tempo para trabalhar em casa. Professora tem mais essa missão. Além de todas as históricas funções que nos foram atribuídas enquanto gênero feminino, temos ainda que fazer malabarismos com os segundos para criar uma brecha no tempo para a nossa realização profissional. Digo reliazação porque não me acredito realizada enquanto professora se o que eu tiver feito ontem seja completamente igual ao de hoje. A docência é a arte da invenção e reinvenção. É necessárioa atualização, ouvir e ler novas opiniões, e incluir sob crítica rigorosa em nossa atividade artístico pedagógica que é lecionar. Mas além da arte há a magia. Precisamos ser mágicas para conseguir administrar casa, filhos, marido, trabalho. Mas conseguimos! É mágica! Estou aqui agora: ESCREVENDO!!! Abracadabra: e novas ideias surgem para serem refletidas. Mas a mágica expira. A brecha encontrda se esvái. Agora só mais tarde, quando uma nova mágica puder ser feita. Hora de buscar a filha na escola, depois dar o almoço, arrumar a cozinha, recolher roupas do varal, lavar a farda da mocinha, tirar suas dúvidas da tarefe escolar. E novamente incorporar a bruxa que fará a mágica da brecha do tempo para planejar aulas, elaborar avaliações, ler algum texto e TRIIIIMMMMM. Parar tudo porque a mágica perdeu o efeito. Virá o jantar e terei que correr para o trabalho, onde chego suada, afobada. Muitas cobranças! E ninguém refletirá qual a minha condição para estar ali e contribuir para o desenvolvimento da cidadania. Terminou a aula, para casa. Antes de dormir ainda uma série de afazeres domésticos. Se possível um livro, mas este fica entre o sonho e a realidade.
Abracadabra: o tempo acabou! Me prolonguei... devo ir buscar a pequena.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A construção de conceitos históricos: a Evolução Humana e relevância dos estudos históricos.
Profª. Ma. Analice Rocha de Araújo

O homem é objeto de estudo de diversas ciências. Buscamos nos entender, nos explicar: “Por que nos comportamos de determinadas maneiras?”, “Quais os limites do nosso corpo?”, “Quais substâncias nos fazem bem ou mal?”. São inúmeras nossas inquietações e indagações. Entre elas, a questão “Como chegamos até aqui?” fundamentou pesquisas em diversas áreas do conhecimento humano.
Entendendo que o conhecimento não é estático e que as ciências estão sempre buscando o novo (as descobertas), vivemos um processo dialético constante, onde o que está posto é passageiro e mutável. É assim com o conhecimento histórico. As “verdades” postas pelos historiadores podem ser reformadas ou derrubadas e novas “verdades” surgirão. Acrescente-se ainda que os historiadores são, como qualquer ser humano, sujeitos a paixões, tornando o seu trabalho reflexo de sua visão de mundo.
As ciências cruzam-se, isolam-se, cruzam-se novamente, num movimento de constante busca quanto ao entendimento de nós mesmos. A ciência História, que tem o homem como objeto de estudo, assim como outras ciências, estudou a Evolução Humana.
Segundo Darcy Ribeiro ainda não há um esquema global das etapas da evolução sociocultural que se baseie no que a arqueologia, a etnologia e a História tem produzido recentemente como conhecimento. Significa dizer que não há um modelo único que explique a evolução humana.
A historiografia tem colecionado alguns modelos conceituais a cerca da evolução humana. Para explicar o início da história da humanidade foram criados conceitos como o de Pré-história e Sociedades Ágrafas. Hoje o conceito “Pré-história” é bastante questionável por deixar subentendido que História só existe a partir da escrita, negando aos homens das sociedades ágrafas o seu papel como ser histórico. Outro argumento contrário é o de conceituar como “Pré-história” um determinado período a partir da observação em um determinado espaço geográfico, quando se observam características de evolução sociocultural semelhantes entre grupos humanos em tempo e espaço distintos. Portanto, muitos historiadores tem preferido usar o conceito “Sociedades Ágrafas” em um determinado tempo e espaço definidos, e, a partir daí, passam a estudar, assim como outros cientistas (antropólogos, arqueólogos, etnólogos, etc.), a organização socioculutural e sua evolução.
Esse modelo que estabelece o advento da escrita como critério para se estabelecer a existência da civilização, foi criado por Lewis Morgan e publicado em 1877. Por esse modelo seria possível dividir a história uniformemente em três etapas gerais da evolução: Selvageria, Barbárie e Civilização. Em 1884, Friedrich Engels, inspirado pelas concepções marxistas, reelaborou o modelo de Morgan, definindo um tipo histórico de sociedade a partir da análise da combinação do modo de produção, da organização social e de concepções ideológicas . Nesse modelo ficaram definidas cinco formações: comunismo primitivo, escravismo, feudalismo, capitalismo e socialismo.
Gordon Childe, na primeira metade do século XX, criou um novo modelo de análise da evolução humana partindo da análise das tecnologias de produção. Cunhou os conceitos de Revolução Neolítica e Revolução Urbana. Na primeira temos uma grande transformação ocorrida a partir da descoberta da agricultura e da domesticação de animais, e a segunda, como uma consequência da primeira levando a formação dos aglomerados urbanos (vilas, cidade, civilizações). É importante salientar que a Revolução Neolítica nem sempre determinou a posteriori a Revolução Urbana. Por esse modelo é possível se observar sociedades ágrafas em tempos históricos e espaços geográficos distintos. Podemos, por exemplo, observar aldeias em estágio neolítico na África por volta de nove mil anos antes de Cristo e da mesma forma formações desse tipo no Brasil em 1500 da Era Cristã. É um modelo mais adaptável à diversidade que é a evolução humana no planeta.
É importante salientar que todos esses modelos são conceituações criadas por estudiosos de acordo com um critério que, embora fundado em resultados científicos, foram passionalmente escolhidos.
Livres das amarras de qualquer conceito posto e provado, podemos observar que as revoluções tecnológicas ao longo da história da humanidade contribuíram para transformação das formações socioculturais.
Empregamos o conceito de revolução tecnológica para indicar que a certas transformações prodigiosas no equipamento de ação humana sobre a natureza, ou de ação bélica, correspondem alterações qualitativas em todo o modo de ser das sociedades, que nos obrigam a tratá-las como categorias novas dentro do continuum (grifo do autor) da evolução sociocultural. Dentro dessa concepção, supomos que ao desencadeamento de cada revolução tecnológica, ou a propagação de seus efeitos sobre contextos socioculturais distintos, através dos processos civilizatórios, tende a corresponder a emergência de novas formações socioculturais.
Assim, mais importante do que estudar conceitos históricos, é entender como eles foram criados e perceber como operou o funcionamento das transformações socioculturais que caracterizaram e caracterizam a evolução humana. O fogo, a roda, a agricultura, canais de irrigação, os metais, a catapulta, a pólvora, etc., são alguns exemplos prodigiosos que permitiram o surgimento de novos ordenamentos sociais, políticos, econômicos e culturais.
Alguns historiadores talvez não concordem com essa submissão da evolução sociocultural a evolução tecnológica, mas não estamos aqui propondo mais um conceito acabado e irrefutável, mas criando um ponto de discussão aberto a novas análises.
Se para alguns historiadores a Revolução Neolítica necessariamente trouxe a sedentarização, para outros uma coisa não determina a outra. Por isso tudo, não devemos aceitar os conceitos como verdades absolutas.
Durante muito tempo, aqui no Brasil, em virtude de nossa herança colonial, produzimos uma historiografia influenciada pelas conceituações européias. O tempo histórico (os grandes períodos ou idades da história) era conceituado a partir do “espaço” dominante. Assim, quando se estudava Idade Antiga, privilegiava-se o estudo das civilizações que ajudaram a formar ou que de alguma forma influenciaram no processo histórico evolutivo da Europa. Ou ainda estudávamos aquilo que os pesquisadores europeus construíram quanto ao conhecimento histórico. O estudo das sociedades ágrafas do território brasileiro antes da chegada dos portugueses é muito recente. Até a introdução das pesquisas na área, praticamente era desconsiderado o papel dos nativos americanos no processo histórico de formação sociocultural brasileira, sendo muitas vezes turvado pelo preconceito.
No século XIX, com o neocolonialismo e imperialismo, os franceses fizeram expedições pelo Egito. A região da Mesopotâmia também foi vasculhada. Percebeu-se que aí estariam povos com formações socioculturais complexas e com o registro escrito de várias situações (econômicas, culturais). Convencionou-se atribuir ao período de surgimento da escrita o conceito de período histórico, e o de formações socioculturais com instituições sociais bem definidas, e na região que vai do Egito a Mesopotâmia, de Idade Antiga ou Antigas Civilizações Orientais. Embora se faça uso da palavra “oriental”, o oriente de Greenwich (localidade do Reino Unido) ficou restrito a região citada. A China, a Índia, o Japão e outras regiões, foram excluídas dos estudos, embora sua existência com uma formação sociocultural complexa tanto quanto o Egito ou Mesopotâmia seja hoje percebido.
Hoje os estudo de história nos currículos escolares já incluem essas formações socioculturais. A problematização desses estudos torna-se necessária. Há por exemplo, pesquisas em andamento que buscam comprovar o pioneirismo chinês em grandes navegações oceânicas. Se comprovado, é derrubada a “verdade” sobre o pioneirismo português que, por enquanto, é o que prevalece.
É importante entender como e quando determinados conceitos foram construídos bem como o contexto de sua inclusão nos currículos escolares. Compreender, por exemplo, que o significado de Neolítico faz parte de uma construção conceitual para determinar uma determinada formação sociocultural independente de seu período e localização. Perceber que elementos de culturas temporal e espacialmente distantes da nossa permanecem ainda presentes e que outros se transformaram. A partir desse entendimento, lançar o olhar crítico para analisar se tais permanências e/ou mudanças foram ou são relevantes, positivas, negativas, etc., para, enquanto agentes históricos, fazermos nossas escolhas para o futuro.